Certos animais são bem conhecidos pelo grande desenvolvimento do olfato. O cão, por exemplo, cheirando apenas o rasto da caça, pode segui-la passo a passo, até encontrar-lhe o esconderijo.
No homem, o olfato é um sentido que poderíamos considerar de segunda categoria, relegado mais às funções vegetativas, e raramente atingindo desenvolvimento comparável ao da vista e do ouvido. Contudo, não escasseiam exemplos de acuidade excepcional do olfato.
É conhecido o caso de uma moça, Júlia Brace, que, cega e surda, podia pelo olfato separar a roupa vinda da lavadeira, e pertencente aos numerosos habitantes do asilo de Hartford… Nem é para se desprezar o olfato, sabendo-se que, além de “sentinela” à entrada dos aparelhos respiratório e digestivo, representa uma espécie de “gosto à distância” (Kant), e concorre para o que chamamos paladar dos alimentos. Este paladar, como já dissemos em tópico acima, resulta de várias sensações associadas, entre as quais as odoríferas. Quando, por exemplo, se está endefluxado e, pois, com o olfato suspenso o vinho, o café e várias outras substâncias parecem menos agradáveis que de costume.
Aparelho olfativo
A parte periférica do aparelho olfativo está na mucosa nasal; a intermediária, ou transmissora, são os filetes do nervo olfativo, primeiro par craniano, os quais, nascendo na mucosa nasal, passam através da lâmina crivada do etmoide, penetram na cavidade craniana e vão ter aos lobos olfativos, para seguirem, depois, para o cérebro. A parte central está situada, segundo alguns fisiologistas, no hipocampo, isto é, na face inferior dos hemisférios cerebrais.
Zona olfativa
A mucosa nasal, ou pituitária, apresenta um epitélio ciliado, como toda a árvore respiratória. A sua parte inferior, porém, mais vizinha das narinas, é atapetada por um epitélio estratificado pavimentoso, continuação da pele, e com terminações do nervo trigêmeo, sensíveis ao tacto, à temperatura e à dor.
Na parte superior da mucosa, tanto no septo como na parede externa, há uma pequena zona (250 milímetros quadrados para cada fossa nasal), a zona olfativa, que apresenta certas células nervosas de feitio especial. Os cílios das células olfativas são os células olfativas elementos excitáveis do aparelho.
Excitantes odoríferos
Os excitantes odoríferos são certas substâncias que, por motivos ainda não elucidados, possuem a propriedade de agir sobre as terminações das células olfativas. O que é essencial é que emitam partículas gasosas. Isso, contudo, não quer dizer que todas as substâncias gasosas são odoríferas, pois o hidrogênio e outros gases não apresentam cheiro algum.
As partículas gasosas odoríferas são inspiradas juntamente com o ar, e, assim, entram nas fossas nasais pelas narinas; mas também podem nelas penetrar pelas coanas, ou aberturas posteriores das fossas nasais. Isto se dá logo em seguida à deglutição, quando o indivíduo expira; e é neste momento que a sensação gustativa do alimento se associa à sensação olfativa.
As sensações olfativas
É possível que se chegue, um dia, a reduzir as inúmeras sensações do olfato a um grupo de sensações fundamentais, como já se fez para o gosto. Estamos, porém, ainda longe disto, não tendo, por enquanto, logrado êxito nenhuma classificação dos odores.
Quando muito, poder-se-á dizer que existem sensações odoríferas agradáveis e sensações desagradáveis; mas uma tal classificação é subjetiva, e por isso falha, pois o mesmo cheiro poderá ser agradável para um indivíduo e desagradável para outro. A assafétida,, por exemplo, em geral abominada, é por certos povos usada como tempero. A sensibilidade olfativa, congenitamente grande em alguns indivíduos, pode tomar enorme desenvolvimento pelo exercício. A ausência de olfato toma o nome de anosmia.
O caminho do Odor no Olfato
A sede receptiva do olfato ocupa uma pequena região situada no alto das fossas nasais – a mucosa olfativa -, que contém os receptores olfativos. Estes, constituídos por células nervosas alongadas, são recobertos por formações semelhantes a cílios. Os prolongamentos (axônios) das células olfativas atravessam a lâmina crivada (isto é, porosa) do osso etmoide e penetram na caixa craniana, formando a via olfativa.
Esta atinge o cérebro, ou, mais precisamente, uma formação nervosa chamada bulbo olfativo. Daí, partindo dos glomérulos olfativos, o impulso nervoso atinge o córtex cerebral, onde a excitação nervosa é, finalmente, transformada em sensação de odor.
Além dos receptores, a mucosa possui células glandulares (glândulas de Bowman) que secretam um muco onde se encontram imersos os cílios olfativos, constituindo a verdadeira superfície olfativa capaz de receber os estímulos.
Para ser pressentida pelo olfato, a substância deve ser volátil, isto é, precisa encontrar-se em estado gasoso, de modo a poder se misturar ao ar inspirado. Mas, para alcançar os cílios dos receptores olfativos, a substância deve ser também solúvel em água. Isso pelo fato de os cílios estarem imersos na secreção das glândulas de Bowman, composta de água em sua maior parte. Além disso, supõe-se que os cílios sejam constituídos, sobretudo, por substâncias gordurosas e que a substância aromática, portanto, deva ser igualmente solúvel em óleos.
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